3ª Divisão Série F

Farense U. Montemor

-- Crónica:

O União apresentou-se em Faro com algumas ideias novas.

Sabendo que uma equipa se constrói de trás para a frente, o novo treinador aposta numa defesa em linha e numa marcação à zona. Os dois centrais jogam agora lado a lado, proporcionando um menor desgaste, uma defesa mais próxima entre si e consequentemente do meio campo.
Num jogo em que o União defendeu bem, saliento a exibição dos dois centrais. Tiveram uma exibição quase perfeita. Raramente perderam um duelo com o gigante e possante avançado farense, tiveram presença, calma e um timming de corte assinalável. E isto tudo é realçado se se tiver em conta que no primeiro tempo a equipa do Farense apenas bombeou bolas para a cabeça do seu ponta-de-lança.
Para mim, os dois centrais foram os melhores em campo do lado do União.
Do lado direito da defesa esteve o adaptado Miguel. Denota a prematuridade da adaptação falhando muitas vezes no posicionamento e nas decisões de passe quando estava pressionado. Pode ser uma solução para aquela debilitada posição do plantel unionista mas necessita de muito trabalho por parte do treinador.
Na esquerda jogou um Fábio Neves seguro, calmo, sem medo de assumir o jogo e ligar a defesa com o meio campo. Estava a cumprir uma exibição ao seu nível se não fosse a falta de cuidado do seu treinador ao não o retirar de campo quando o Farense alinhava o seu ataque pelo lado esquerdo da defesa do União. Era evidente que mais tarde ou mais cedo algum elemento da defesa iria ser expulso, dado o fraco valor da equipa de arbitragem. André, Setúbal e Fábio foram amarelados muito cedo e como é lógico são os laterais os mais propícios a verem o segundo amarelo. O treinador do Farense viu e bem que o nosso lateral esquerdo estava amarelado e na segunda parte só encadeou o ataque pelo seu lado direito. Na primeira falta de Fábio na segunda parte este viu o segundo amarelo. Este acontecimento mudou o jogo e ai denoto a única falha do novo treinador. Não quis arriscar ao colocar um jogador menos capaz e com isso viu a sua equipa reduzida a dez, com o resultado ainda empatado.

Na baliza, Rui Fradinho teve a única falha no primeiro golo do Farense, defendendo para a frente uma bola que vinha com pouca força. Demorou a chegar à bola e não conseguiu defende-la para o lado. À sua defesa incompleta correspondeu um dos homens do Algarve para fazer o empate. Teve pouco trabalho, mas sempre que foi chamado a intervir fê-lo com eficácia.

Jogando num 4-2-3-1 assumido, o treinador João Prates fez alinhar Rui Roque e Seatra como médios-defensivos. Marcaram bem o meio-campo mexido do Farense e com isso rubricaram uma exibição capaz. Ao habitual Seatra, juntou-se desta vez o antigo defesa-direito Rui Roque. Nunca teve medo de ter a bola, posicionou-se de forma inteligente e cumpriu com o que lhe foi dito. Só quem não soubesse do valor deste jogador pode estar surpreendido com o jogo que ontem este fez na sua posição de origem. Foi uma muleta muito importante para o capitão Seatra e tentou sempre que possível ligar o seu meio-campo com o ataque. Boa exibição do meio-campo unionista face a uma experiente e batida intermediária farense.

A organizar esteve Jorge Roque quase de regresso ao seu registo. E digo quase porque não muitas vezes demorou uma eternidade a lançar o ataque perdendo por vezes a bola onde esta nunca pode ser perdida. De resto uma exibição segura, onde assinalo o querer e uma vontade enorme de ter a bola nos pés e tirar alguma coisa de cada lance que não fosse pontapeá-la de qualquer forma para a frente. No computo geral foi um dos melhores do União.

Na ala direito o jovem Lino cumpriu com o talento que todos lhe conhecemos e com a inexperiência que denota. Ainda na primeira parte teve o golo nos pés já dentro da pequena área com o resultado empatado a um. A surpresa do falhanço do defesa terá impossibilitado um remate eficaz. Acabou por estar bem a defender e menos bem a atacar. A aposta no jovem jogador é de salientar, sendo lógica dado o seu valor, técnica individual e leveza de movimentos.

Na ala esquerda o argentino Julian partiu a loiça. O melhor jogador do ataque do União deslizou sempre que pode pela defensiva farense. Ninguém lhe conseguia tirar a bola e foi ele o principal dinamizador do ataque do União. Sempre em progressão, driblou os defesas, esticou a equipa e a velocidade imposta foi a principal dor de cabeça para uma fraca defesa do Farense que clamou pelo seu patrão, o castigado Idalécio. Foi dele a assistência para o golo de Setúbal.

Vieira jogou como ponta-de-lança e cumpriu a sua tarefa. Como é lógico não teve muito jogo mas fez o que pôde, pressionando os centrais e tentando segurar a bola permitindo a subida dos médios. Esteve bem e a simplicidade de movimentos quase sempre eficazes é de assinalar.

Numa deslocação ao terreno de um candidato à subida o União portou-se muito bem e denotei duas características que permitiram à equipa um jogo de bom nível.

Os sectores da equipa estiveram bem juntos, o que possibilitou um menor desgaste, um preencher mais racional dos espaços e uma solidariedade entre todos os jogadores. Na primeira parte a equipa nunca deu espaços ao adversário o que lhe permitiu sair muitas vezes em contra-ataque. O Farense apenas bombeava bolas para o seu ponta-de-lança tentando tirar daí dividendos. Os centrais do União não o permitiram com uma marcação que produziu os seus efeitos. A união entre os jogadores de todos os sectores fez com que o União ganhasse a maior parte das segundas bolas.

Os jogadores tentavam sempre sair a jogar pelo chão e não esticar o jogo para o ponta-de-lança sem a bola passar pelo meio campo. Numa relva em mau estado, a equipa do união tentou sempre jogar pelo chão e aqui notou-se a mais valia técnica de Jorge Roque. Gostei de ver as jogadas encadeadas pelo chão, com os jogadores a abrirem linhas de passe e a movimentarem-se correctamente.

Com a defesa em bom nível o União sofreu dois golos de bola parada (livre e canto), e poderia ter marcado por Julian aos 88 minutos. O guarda-redes do Farense com uma excelente defesa tirou os sorrisos à dezena de adeptos montemorenses. Nesta fase era o União que mandava.
Aos 75', o União passou a jogar com 3 centrais (André, Setúbal e Daniel), 4 médios (Seatra, Lino, Jorge Roque e Miguel) e dois jogadores na frente (Marçal e Julian) e o jogo mudou. O Farense não saia da sua área e crescia a esperança do empate. O bom estado físico dos atletas do União permitiram-lhe ter uma atitude espectacular e encostar o Farense às cordas. Seguiram-se os cantos e as jogadas rápidas e perigosas. Julian teve o primeiro ponto nos pés, mas o guarda-redes algarvio manteve os três pontos no Estádio do Algarve.

Agora, chegam de vitórias morais, precisamos de pontos!

Rogério Malagueira